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segunda-feira, 10 de julho de 2017

Travessia Bonete/Castelhanos Ilha de São Sebastião (IlhaBela) - FEV/16

Travessia Bonete/Castelhanos Ilha de São Sebastião (IlhaBela) - FEV/16

E a Equipe Romoaldo cresce a todo vapor! Com agora mais um membro engajado no desbravamento das florestas tropicais e montanhas brasileiras, dirigimos-nos para a maravilhosa ilha, que fica a poucos quilômetros da capital do Estado de São Paulo, Ilha Bela. Apesar de grande parte da ilha ser destinada ao turismo de luxo, no lado sul da ilha ainda é possível encontrar trilhas selvagens de baixo fluxo, campings, cachoeiras e tudo o que uma floresta tropical de mata atlântica pode te oferecer. E para lá fomos nós, rumo ao sul da ilha, sempre avante Romoaldo!


Membros Participantes do Trekking: Diego Alvarez, Leonardo Santos, Renato Gamba, Victor Honda (Honda) e Victor Tregier (Tregier).

TrackLog Dispinível em: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=12618153


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Estatísticas Totais
  • Distância: 43.2 km
  • Duração: 4 dias 0:42:05
  • Elevação
    • Mínimo: 0 m
    • Máximo: 693 m
    • Subida: 2158 m
    • Descida: 1982 m



1° Dia (08/02/2016) - Ônibus, Calor, Cachoeiras e Noite no Mirante.

  • Distância: 11.1 km
  • Duração: 6:51 hrs
  • Elevação
    • Mínimo: 36 m
    • Máximo: 162 m
    • Subida: 485 m
    • Descida: 399 m


Saímos o mais cedo possível do Quartel General da equipe, que fica no Butantã, na zona Oeste de São Paulo, em direção à Rodoviária do Tietê. Chegamos e compramos as passagens para São Sebastião com saída prevista para às 06:45 hrs. Chegamos em São Sebastião e descemos na última parada, próximo à balsa. Depois de atravessar a balsa debaixo de um sol escaldante e maravilhoso, pegamos o ônibus municipal da ilha com destino à Borrifos, a parada mais ao sul da ilha que os ônibus chegam, ônibus que sai da frente da garagem (qualquer pessoa pode indicar, além de ficar muito perto da Balsa).

Em quase uma hora, chegamos ao ponto final. Exatamente às 11:45 hrs começamos nossa caminhada. O primeiro trecho é repleto de bares e restaurantes, e caminha-se exatamente 2 quilômetros na direção Leste até o fim da estrada de terra e coincidentemente a portaria do Parque Estadual de Ilha Bela (A partir desse ponto não há acesso de veículos).

Neste primeiro trecho da trilha as diversas cachoeiras cortadas pelas pontes e passarelas são cenário para exploradores despretensiosos, fotógrafos e jovens casais apaixonados. A época do ano que escolhemos para fazer essa trilha não é a mais recomendada. Um calor insuportável nos fez suar litros de água e a quantidade de borrachudos só faz-se aumentar ao longo do desenvolvimento da trilha.

No Km 4.2 (contados desde o início da caminhada), nos deparamos com muitas pessoas se refrescando na Cachoeira da Laje, que é um poço enorme com várias quedas, perfeito para se refrescar. Não resistimos.Lavamos nossos corpos sujos e suados na água fria e continuamos pela trilha larga de chão batido, fácil de andar porém longa e repleta de borrachudos.


Leonardo (esq) e Tergier(Dir) Preparando-se Para Entrar na Água Gelada e Refrescante da Cachoeira  da Laje. Ao fundo Diego Desequipando Foto: Renato Gamba (08/02/2016)
No restante da caminhada, via trilha bem aberta e batida que segue para leste em direção ao Bonete, não houve muitas surpresas. O trecho é bem tortuoso, acidentado e com relevo constantemente alternante, o que força bem as pernas quando se está com bastante carga.


Equipe Reunida Para Almoço. Da esquerda Para a Direita: Renato, Leonardo, Diego, Honda e Tregier. Foto: Renato Gamba (08/02/2016)


Questão das mochilas: Desde nossa primeira travessia, valorizamos demais o uso de equipamentos de qualidade, principalmente mochilas. Usamos todos às mochilas da Quéchua modelo Easy Fit de 50 e 60 litros, sem fazer propaganda, tem uma ótima qualidade, funcionalidade de custo-benefício. O membro novato (Victor Tregier) apesar de ter sido alertado sobre o transporte de carga (sempre saímos com mais de 15 kg cada um) estava com uma mochila de lona, sem armação de alumínio (fundamental na distribuição de peso) e de péssima qualidade. Assim, logo no meio do primeiro dia ele começou a reclamar de dores nos ombros (as mochilas técnicas distribuem o peso para a cintura, a dele não) e precisamos revesar a bolsa dele nesse primeiro dia.


Montagem Do Acampamento. Honda(esq) e Leonardo(dir). Foto: Renato Gamba (08/02/2016)


Por fim, chegamos ao mirante do Bonete por volta das 18:30 hrs, onde decidimos acampar pois o terreno é plano, há um bom lugar afastado da trilha (Não gostamos de acampar próximo ao fluxo de pessoas) e a vista é sensacional. Há 300 metros descendo a trilha na direção leste, há uma cachoeira ótima para captar água e tomar banho.


Vista à Partir Do Mirante Do Bonete. Foto: Renato Gamba (08/02/2016)



2° Dia (09/02/2016) - Merecida Praia, Descanso e Beiço Inchado.


  • Distância: 1.9 km
  • Duração: 1:12 hrs
  • Elevação
    • Mínimo: 17 m
    • Máximo: 143 m
    • Subida: 51 m
    • Descida: 162 m


Despertamos às 06:00 hrs depois de uma noite relativamente conturbada. Estávamos em 05 pessoas mas com somente duas barracas técnicas para 02 pessoas cada, e isso fez com que uma das barracas fosse ocupada por três pessoas. O calor que o primeiro raio de sol fez na barraca, tornou-a insuportavelmente inabitável. Em relação à isso, Leonardo escreveu em seu relato pessoal:

“No acampamento que armamos havia excesso de borrachudos e fedor masculino, com carência de espaço pois dormiram 3 "nêgos" dentro da mesma barraca. Foi a pior noite de sono da minha vida. Sinto que somando o tempo de sono na noite eu dormi no total uns 5 minutos porque estava acordando transtornado e suado a cada segundo. Abri a portinhola para arejar a barraca e poder estender a perna mas este foi um "trade off" ingrato pois os mosquitos invadiram a barraca e puderam tocar ainda mais o Terror.”
  • Leonardo Santos

Desmontamos acampamento e andamos 1.9 km até o Camping da Vargem, mesmo camping que o Rafael Santiago acampou em sua travessia. Chegamos lá depois de sermos guiados por uma garota que estava acampada e pedimos informação. O camping é simples e um pouco afastado da praia, mas na época estava barato e tinha tudo o que precisávamos (Um lugar pra montar a barraca e deixar as coisas).


Camping Da Vargem. Equipe Engajada Na Manutenção dos Equipamentos. Foto: Renato Gamba  (09/02/2016)

Passamos todo o dia na Praia do Bonete. Nadamos na água transparente, nos alimentamos bem e nos preparamos psicologicamente para o próximo dia que sabíamos que seria intenso.

A quantidades de borrachudos (para quem não conhece é um mosquito que pica, deixa um buraquinho e coça muito) para alguns foi um transtorno, mas para o Leonar, que descobrimos que era alérgico à essas picadas, foi algo além. Sua reação alérgica o deixou todo inchado, fazendo com que nos reuníssemos durante a noite para discutir a viabilidade de continuar o trekking. Ele relutou à possibilidade de desistirmos e insistiu que continuássemos. Em seu relato pessoal escreveu:


“Os malditos borrachudos (Simuliidae) são o problema de qualquer pessoa que se aventura em Ilhabela. No entanto, descobri que sou alérgico à picada destes mosquitos infernais. No decorrer de um dia recebi tantas picadas destes insetos detestáveis que minhas mãos incharam e tomaram a aparência de pãezinhos. Os braços também incharam e ganharam a textura plástica de um bebê muito fofo e chorão. Muita dor para segurar objetos, amarrar os cadarços, colocar a mochila, etc.
Eu precisava me recuperar do esgotamento do dia anterior e curar minha mão inchada. Entrei na barraca para cochilar durante a tarde e foi quando a situação mais grotesca aconteceu. Um borrachudo invadiu a barraca, me picou bem no lábio e eu imediatamente senti a pele do meu beiço inchado como um balão preenchido de ar quente. O Honda disse que minha aparência despertava bad trip. Não duvido disso. Pelo menos todos do camping riram de mim, e riram comigo! Tomei os antialérgicos que a equipe sabiamente havia trazido para a ilha, e fui dormir torcendo para acordar melhor, e que pudéssemos continuar nos divertindo no dia seguinte”.
  • Leonardo Santos


Comparativo Entre a Mão do Leonardo (inchada pela alergia/superior) e a Mão do Renato (normal/inferior)

Jantamos, dormimos cedo, e dessa vez nos planejamos melhor quanto à distribuição de pessoas e bagagens, tendo assim uma noite relativamente mais confortável.



3° Dia (10/02/2016) - Cruzando Via Interior da Ilha, Paraísos Particulares, Castelhanos


  • Distância: 14.6 km
  • Duração: 12:14 hrs
  • Elevação
    • Mínimo: 0 m
    • Máximo: 295m
    • Subida: 901 m
    • Descida: 905 m


Despertamos antes das 05:00 hrs, desmontamos acampamento rápido e 06:35 hrs começamos a caminhar. Para pegar a Trilha que cruza a parte sul da Ilha de São Sebastião, é preciso primeiro “pipocar” de praia em praia na face sul. A primeira praia é a Enchovas, seguida por uma parada na praia Indaiuba e aí sim pegar a trilha que cruza para a face leste para a Praia Vermelha depois Castelhanos.

A trilha para  Enchovas encontra-se atrás da vila do Bonete, na direção norte/nordeste, seguindo uns campos abertos. Há algumas placas que auxiliam na localização, mas é importante se atentar pois há muitas bifurcações. A trilha se inicia após atravessar um rio, pulando de pedra em pedra. Logo após vem uma subida, um mirante e começa um trecho abaixo da copa das árvores mas com trilha sempre muito batida e bem definida.


Pausa Técnica. Esq. p/ dir.: Leonardo, Honda e Diego. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)

Tregier Apresendanto o Mirante Leste da Praia do Bonete. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)


Depois de 3,4 Km, chegamos à Anchovas exatamente às 7:45 hrs. Lá, encontramos um senhor muito simpático chamado Anacreto, pescador e morador da praia, que nos indicou o começo da trilha para a praia Indaiuba. Na Praia há uma casa relativamente grande, e incrivelmente um heliponto, que acreditamos ser um acesso para a praia Indaiuba, onde sabíamos que havia algumas mansões.


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Vista da Praia Anchovas à Partir Da Trilha que dá Acesso à Mesma. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)


Seguindo para leste, é necessário cruzar um rio bem na sua área de deságue no mar, e depois seguir pela margem esquerda em direção à jusante(interior da ilha) até encontrar a trilha que sobe o morro em direção à leste. A trilha é bem fechada no seu começo, e difícil de ser encontrada, mas quando o morro termina, ela se abre e fica bem demarcada. Novamente com sobes e desces, cárregos repletos de aranhas cruzando a trilha e trechos de mata relativamente fechada, andamos por 3Km até que nos deparamos com uma coisa muito interessante.

A trilha da uma guinada para cima e de repente chega em uma estrada de paralelepipedos! Então, encontramos uma placa escrito: “Não deixe lixo, área sob vigilância eletrônica”, e uns 50 metros à frente, câmeras de monitoramento e uma série de espelhos convexos ótimos para se tirar umas fotos. Tomamos a “rua” da direita e logo nos deparamos com imensas mansões! Sem garagem para carros, vimos quadriciclos, o que acreditamos que seja o transporte por lá. Descemos uma encosta e chegamos em umas pedras onde próximo havia uma cachoeira. Tiramos os equipamentos e paramos para descansar exatamente às 9:40 hrs. É importantíssimo relatar que o tempo todo estávamos sendo observados por “seguranças” que surgiram na praia ao longe, porém não fomos incomodados. Leonardo descreveu de forma brilhante esse ocorrido em seu relato pessoal:

“Estávamos no meio da Mata Atlântica selvagem e inóspita enquanto os pássaros, as cigarras e todo tipo de inseto saudavam nossos passos com zunido. Então subitamente a coisa mais improvável do mundo aconteceu quando adentramos um condomínio particular com calçadinhas de paralelepípedo conduzindo-nos a jardins amplos e Casas da Cascata de Frank Lloyd Wright. Placas com sinais de “Entrada terminantemente proibida” abocanhavam o espaço e intimidavam o trilheiro que se pergunta "É o ser humano bicho assim tão mesquinho mesmo?"
Descemos pelas largas vias do condomínio de elite e a situação mais improvável e fascinante do mundo aconteceu quando nos deparamos com a magnitude colossal da Praia de Indaiaúba. Sua beleza tranquila era equivalente à grandeza de sua extensão e o tamanho das enormes rochas dispostas ali elegantemente por Deus. Gaivotas a apreciavam os tons esmeralda e turquesa translúcidos do oceano. Libélulas em seu voo matinal inspecionavam elegantemente as cracas esverdeadas que cresciam nas rochas, em ecossistemas tão ricos e complexos quanto a vida em si mesma”.
  • Leonardo Santos


Espelhos Convexos Ótimos Para Fotografar. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)

Câmeras de Segurança e Placas do Condomínio. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)



Quase uma hora depois, às 10:33 hrs, vimos que o Leonardo estava melhorando devido à caminhada, os anti-alérgicos e a quantidade absurda de repelente que passamos nele, sendo assim retomamos a caminhada. A trilha finalmente começa a seguir para nordeste. Há algumas placas indicando o início do trecho para Castelhanos, mas mesmo assim não é fácil achar. O ponto de referência é um aqueduto abandonado que lembra a arquitetura romana, próximo à ele a trilha segue subindo o morro para norte/nordeste.


Vista da Praia Idaiuba à Partir da Encosta Norte. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)

A subida, é a maior de toda a travessia. São 1.4 Km subindo 240 metros em um terreno muito acidentado e uma mata bem fechada. Levamos no total, 1:20 hrs para subir, suando muito e sofrendo para levar a carga morro acima.

Deixo a descrição do que se seguiu pelas palavras do Leonardo em seu relato pessoal:


“Alcançamos o pico e depois contornamos toda a montanha por um terreno quase plano que se embrenhava pela úmida mata atravessada por córregos rasos.
Território de aranhas e mutucas:
Muito atenção neste trecho! O Renato já estava com as panelas na mão para cozinhar quando um bicho nervoso e intimidador que nos espreitava pelas folhas veio zunindo de longe, trazendo muito pânico ao ferroar o Honda por cima mesmo da camiseta! Motuca (Tabanidae) é um bicho do tamanho de uma amora que faz pensar em como no meio do mato o ser-humano não é, enfim, um animal tão onipotente quanto se concebe ser. Uma só motuca foi suficiente para nos expulsar dali. Concluindo, o Renato guardou as panelas e andamos por mais 2km, mortos de fome, antes de almoçar.
Espetacular era quando passávamos por alguma clareira…! Árvores de troncos grossos desabadas umas naturalmente sobre as outras evidenciavam elegantemente o Grande Plano da Natureza. O Sol banhava estes templos da vida silvestre que acontece em níveis tão microcósmicos quanto sutis, misteriosos e sagrados.
O correr das águas nas cachoeiras ao longe fundia-se ao murmúrio que as árvores fazem e ao som dos insetos e pássaros numa relaxante harmonia de sons naturais. Uma delicada vespa amarela inspecionou calmamente a folha de textura rugosa e proporcionalmente gigantesca para seu tamanho e foi embora.
Uma cultura que vive e resiste:
Chegamos à Praia Vermelha por volta das 15h. Almoçamos enquanto observávamos os caiçaras que vivem ali isolados da cidade e de sua loucura diabólica, que suga o espírito do homem citadino em troca de alguns trocados.
Vi uma criança ajudando seu irmão a preparar um barco. O jovem zarpa e some no horizonte deixando apenas o som de seu automóvel como rastro. A criança ficou na praia, brincando com os cachorros. Nas cadeiras de balanço à entrada das casas os velhos observavam aquela praia que consistia não só um quintal, mas também um meio de produção e sua vida. São homens livres que não vendem sua força de trabalho a nenhum porco-vampiro capitalista.
Um barqueiro de pele marrom tostada chega despretensiosamente do oceano e estaciona na areia acenando a nós no entardecer fresco e perfeito. Gente simples e rústica que resiste contra as investiduras de um Sistema que em sua expansão Ilha adentro busca homogeneizar as formas de vida e cultura do Homo sapiens”.
  • Leonardo Santos


Região Plana de Mata Semi Fechada Logo Após a Maior subida de Toda a Travessia. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)



Foram 5,8 Km da praia A Praia Vermelha é realmente, como descrito pelo Leonardo, um paraíso. Umas das águas mais cristalinas que eu já vi, sendo que já visitei o nordeste do Brasil e o Hawaii. Apesar da praia não ter nenhum camping, somente uma vila de pescadores sem nenhum tipo de instalação comercial, há uma placa informando que é proibido acampar na praia.


Praia Vermelha. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)

Canoa Caiçara na Beira da Praia Vermelha. Foto: Renato Gamba  (10/02/2016)

Renato Cozinhado o Almoço. Foto: Victor Honda  (10/02/2016)


Almoçamos e por volta das 17:40 hrs partimos na direção norte para Castelhanos. Só de passagem, atravessamos outra vila de pescadores que é a praia mansa, onde havia uma igreja evangélica e uma placa alertando que aqueles que tirarem fotos das pessoas sem permissão serão reprimidos pela população local. Com trilhas hiper-demarcadas e de uso constante pelos locais, chegamos à castelhanos no fim do entardecer.

Chegamos na ponta sul da praia, e caminhamos em direção ao norte, onde se situa o camping do Leo, onde eu (Renato) já havia ficado e gostei muito da localização, preço e do terreno. Foram 2,1 km da Praia Vermelha até o camping do Leo, e às 18:51 hrs encerramos nossa caminhada.

Há um momento na nossa chegada que é muito valoroso ser citado neste relato. Quando chegamos na Praia de Castelhanos, o Diego, apesar de seu nítido desgaste físico e mental, apresentou uma satisfação tão imensa, que era possível ver a felicidade em seu olhar. São momentos como esse que refletem o prazer que sentimos em fazer o que fazemos.

Foram 12 horas de caminhada. Encerramos este dia com um trecho do relato pessoal do Leonardo:


“Valeu por ter suportado, Diego!
Este momento também foi de muita apreensão pois o nosso companheiro Diego estava sentindo ânsia de vômito devido ao desgaste físico sofrido no decorrer do dia. O dedão do pé dele estava em carne viva e expelia muito pus.
O Sol já tinha se posto quando chegamos a Castelhanos, a praia mais fantástica que já tive a oportunidade de visitar. Sua baía é longa e larga, com uma ilhota verde fixa em profundas águas densas e intimidantes”.
  • Leonardo Santos



4° Dia (11/02/2016) - Descanso Merecido, Praia Particular e Mais Borrachudos



Passamos o dia na praia de Castelhanos. Descansamos, comemos bem e tomamos uma cerveja no único bar da praia. Na praia, há uns 3 campings, um bar que também é uma venda (possui produtos bem básicos, mas já dá pra repor algumas coisas) e um restaurante caríssimo para os visitantes de um dia só que chegam de lancha ou de jipe na praia. O dia estava chuvoso, haviam pouquíssimos turistas e continuávamos a ser atormentados pelos borrachudos. Fomos para a água para fugir deles, mas eles nos perseguiram e picavam todas as partes fora d’água (testa, orelhas e etc..). Não há muito o que falar desse dia. Finalizamos novamente com um trecho relatado pelo Leonardo:
“Um dia de descanso e realização.
Tínhamos todo o dia para curtir e descansar!
Senti-me uno com aquele lugar. Existindo, e compartilhando com os amigos. Buscando aprender com os erros, e perdoando sempre.
Naquela noite só as crianças brincaram na orla da praia em frente ao acampamento. Meninas e meninos riam, e as luzes de suas lanternas por entre as os galhos das árvores iluminavam o céu escuro”.
  • Leonardo Santos



5° Dia(12/02/2016) - 18km até a civilização, Estrada que Sobe, Adeus Paraíso.


  • Distância: 15.5 km* - *Até a Portaria, + 3km até o Ponto de Onibus.
  • Duração: 5:31 hrs
  • Elevação
    • Mínimo: 12 m
    • Máximo: 693 m
    • Subida: 715 m
    • Descida: 498 m



Nascer-do-Sol na Praia de Castelhanos. Foto: Renato Gamba  (12/02/2016)

Praia de Castelhanos ao Amanhecer. Foto: Renato Gamba  (12/02/2016)

Levantamos às 5:00 hrs e deixamos o camping do Léo às 7:00 hrs.  Bem na no meio da praia, há uma rua que beira um bar e vai na direção Oeste, rumo à Face Oeste da ilha e o Centro do Município de Ilhabela. Após atravessar uma grande ponte de madeira, começa a estrada do Parque Estadual de IlhaBela.

A estrada funciona em sentido único, durante a manhã somente automóveis vindos do município e à tarde somente vindos de Castelhanos. Seguimos caminhando e constantemente dávamos espaço à jipes repletos de turistas, já que o sol estava cintilante no céu. As pessoas do alto dos automóveis batiam palmas para nós, os resilientes trilheiros sujos e com ossos moídos pela dor.

Depois de mais de  5:30 horas de caminhada e 15 Km chegamos à portaria do Parque Estadual e almoçamos, eram 12:30.


Passando pela portaria caminhamos mais uns 3 Km e lentamente fomos ganhando o asfalto e as casas. As pessoas começaram a surgir com olhares curiosos. Descansamos na calçada, em frente à um conjunto residencial estilo COHAB, até que o ônibus sentido centro nos apanhasse. Passamos pela balsa, caminhamos até um bar onde é a parada final do ônibus rodoviário que chega até a balsa e embarcamos para São Paulo às 16h40.


Adeus Ponta Sul da Ilha de São Sebastião, Foi Um Prazer Explorar Você. Foto: Renato Gamba  (12/02/2016)

sábado, 19 de março de 2016

Travessia Camburi – Trindade SOLO RENATO DEZ/2015 - De Camburi das Pedras, Ubatuba – SP à Trindade, Paraty – RJ

Este é um relato de uma travessia relativamente rápida, feita de maneira solo por um dos membros de nossa equipe, o Renato Gamba Romano.

A ideia de fazer essa trilha surgiu de um relato publicado pelo montanhista Rafael Santiago sobre a travessia Camburi-trindade, um relato muito polêmico nos comentários pois algumas pessoas diziam ter se perdido na trilha, que ela era impossível de se completar e outras coisas, o que foi deixando ela cada vez mais interessante para se fazer.

Como a curiosidade matou o gato, não pudemos deixar de conferir. Segue o relato abaixo redigido com as próprias palavras do Renato:

Travessia Camburi – Trindade.
De Camburi das Pedras, Ubatuba – SP à Trindade, Paraty – RJ
27 de Dezembro de 2015

Dados da Trilha
Distância Percorrida: 7.6 Km
Duração: 5:47 Hrs
Altitude Min./Max. Atingida: 6m / 410m
Elevação (subida/descida): 523m / 523m
Dados sobre como chegar e custos no final do relato.

                         A trilha Camburi-Trindade sempre foi um desejo para mim. Desde meus 16 anos eu frequento essas praias da divisa dos estados (hoje tenho 23 anos) e o fato de ir por trilha de uma à outra sempre me atraiu. Passado a noite de natal e o almoço tão aguardado do dia seguinte, comprei minha passagem de ônibus pela empresa Reunidas Paulista com destino a Paraty-Rj e embarquei às 22:30 hrs do dia 25 de Dezembro de 2015. Chegar na praia de ônibus é fácil, basta pedir ao motorista para descer na vila de Camburi, no km 1 da Rodovia Rio-Santos antes da divisa, em frente a cachoeira da escada. Gostei do horário que eu viajei pois, para quem quer fazer a travessia no mesmo dia, chega-se as 4:00hrs na parada da rodovia e 40 minutos depois, descendo a estradinha para Camburi, se chega até a praia ou ao início da trilha.

Linda praia de Camburi das Pedras, um dia antes da travessia.

                         Decidi curtir um dia na praia, o que recomendo muito antes de fazer a trilha. Recomento reservar pelo menos 4 dias: 1 para conhecer Camburi, 1 para a Trilha, 1 para conhecer trindade e o último para o deslocamento de volta para casa. Em Camburi vale a pena conhecer a cachoeira dos 3 poços (é a cachoeira mais legal que eu já fui na minha vida, leve seu snorkel para mergulhar lá, é um universo a parte), o costão rochoso do lado esquerdo (quando você está na praia olhando para o mar) da praia e os campings lá são muito baratos, o que você não vai encontrar em Trindade. Em Trindade vale a pena ir à piscina natural do Cachadaço, as 7 cachoeiras e ao centro para quem gosta de agitação e baladas. Por fim, fiquei um dia curtindo Camburi, me alimentei bem durante a noite e no dia seguinte decidi partir rumo a Trindade.

Preparado para a trilha


                         Parti, saindo da praia, exatamente às 06:07 hrs, o clima estava bem quente, bebi bastante água e abasteci 1,5l de água no meu cantil. Subi a estrada de terra local  em direção a Rodovia Rio Santos até a Rua Vitória Filipa dos Santos, uma rua de solo bem acidentado que vai em direção ao morro a direita da estrada (Entrar na rua Vitória a direita – Ponto GPS). Uns 300 metros à frente cruzei o rio que, mais abaixo, dá origem a cachoeira dos 3 poços, cruzei e fui adiante. A rua começa a se estreitar muito e subir com uma alta declividade, quando a rua para de subir finalmente chega-se ao começo da trilha (Início da trilha – Ponto GPS).


Rua que leva ao íncio da trilha

Início da trilha

                         A trilha no começo estava bem demarcada e larga, ela já começa com uma subida considerável rumando em direção a Trindade. Trilha iniciada, 800 metros depois ela começou a ficar muito fechada, gastei muita energia e perdi muita água em forma de suor devido ao calor e ao esforço que estava fazendo devido as tentativas de abrir mata (isso realmente me cansou). A mata estava muito fechada, e para todo lado que eu olhava via uma possibilidade de trilha, os bambus não paravam de enroscar em mim e as vezes era até difícil cortá-los com o facão pois o espaço estava cada vez mais limitado, a alta declividade ali também contribuía para o esforço.  Depois de uns 20 minutos de esforço em vão, gravei um vídeo para relatar a situação e coloquei na minha recém iniciada carreira no montanhismo a minha primeira desistência. Quando estava retornando pelo caminho onde vim, de repente encontrei a trilha de novo! (Trilha de novo – GPS)  

Vídeo de quando me perdi:


Vídeo de quando encontrei novamente a trilha:



                         Lá estava ela, bem aberta e visível! Em algum momento eu havia me enganado e seguido um falso caminho (Me perdi – Ponto GPS) que me levou a beira da encosta, sendo que a trilha geralmente tende a seguir a crista dos morros. Cancelei a minha desistência e retornei à minha missão: completar a trilha a qualquer custo! A trilha segue bem aberta por 1.8 km até uma região bem lamosa onde encontra-se o primeiro sinal de água. Como eu havia perdido e consumido bastante água devido ao meu esforço desnecessário, reabasteci meu cantil nas poças (Água 1 – poça d’agua – Ponto GPS) de água que haviam por ali (que eram de água corrente que minava do chão) pois tinha receio de que os próximos pontos de água indicados pelo Rafael estivessem secos.


                         Menos de 100 metros à frente de onde coletei a água há um riacho com uma água bem melhor para se coletar (Água 2 – Riacho – Ponto GPS). A trilha fica bem confusa nesse lugar, e a partir daí, vários trechos com arvores caídas e crescimento “excessivo” de plantas dificulta muito a navegação. Havia uma cobra no riacho, não dei muita atenção para ela mas preferi pegar água mais para cima (a coitada estava muito assustada comigo e tentava correr loucamente pra longe de mim).


                         Aproximadamente 1.3 km separam o riacho do marco da divisa dos estados (Marco da divisa de estados – Ponto GPS). Este trecho estava muito coberto por mata e diversas vezes a trilha não está visível. Em um raio de aproximadamente uns 300 metros do marco da divisa não havia vestígios nenhum de trilha, nesse ponto a navegação foi totalmente por instrumentos. A visão do marco é uma coisa sensacional na trilha, eu estava andando emaranhado no mato quando de repente lá estava ele, um bloco de concreto de mais ou menos uns 60 centímetros encravado no meio da mata!

Marco da divisa de estados SP-RJ


                         Usando o GPS, consegui reencontrar a trilha em um vale a esquerda, mas logo cheguei no ponto em que o Rafael havia descrito um crescimento tão grande de samambaias que havia coberto toda a trilha, realmente estava lá (Samambaias / A trilha some – Ponto GPS). Um mar de samambaias intransponíveis, não dava nem para ver o solo, quanto mais a trilha. Tentei seguir o rumo do GPS abrindo mata com o meu facão, mas me vi cada vez mais emaranhado. Foram mais ou menos uns 25 minutos tentando abrir mata e eu não havia avançado nem 200 metros. Quando eu já estava ficando exausto, cai dentro do mar de samambaias, próximo as raízes das plantas, a massa de folhas sobre minha cabeça estava tão densa que estava até escuro ali. No fundo conseguia ouvir um barulho de riacho, então desisti de tentar seguir a trilha e rolei meu corpo ribanceira a baixo em direção ao som da água. (Recomendo neste trecho não tentar seguir a trilha do Rafael pois ali ela não existe mais). Depois de rolar um pouco cheguei em um barranco, desci e encontrei o riacho (Água 3 – Riacho (Seguir o curso) – Ponto GPS).


                         Depois de um descanso na beira do rio, observando as curvas de nível da carta topográfica do GPS (obtida pelo opensource) cheguei à conclusão de que aquele rio ia direto para a praia do Cachadaço. Comecei a descer ele e depois de 300 metros avistei canos de captação de água (Canos de captação de água – Ponto GPS). Segui os canos descendo o rio e, depois de uns 700 metros, cheguei na maravilhosa praia, bem na cara dos campings que eu queria ficar.



                         A trilha em si não é impossível como diziam, mas não é uma aventura recomendada para iniciantes. É preciso se preparar muito bem pois não há sinal de telefone nem rota de fuga durante pelo menos uns 90% da trilha. No sentido Camburi-Trindade à direita em uma média de 1km terá sempre costões rochosos inóspitos e o mar, e à esquerda uns 2 km subindo os morros tem a rodovia Rio Santos, e no trecho de 7 km de trilha não há nenhuma vila, estabelecimento ou construção que possa te ajudar ou abrigar. Se decidir faze-la, prepare-se para no mínimo um dia de comida e água caso tenha que se abrigar devido a alguma adversidade qualquer. 



Trajeto Percorrido




Dados Logísticos:


  • Ônibus: São Paulo (Rodoviária do Tietê) - Parati (Rio de Janeiro) --> R$ 60,00  
    •  - Pedir para descer no KM 1 da Rod. Rio-Santos, na Vila de Camburi das Pedras.
  • Diária no Camping Ypê (Camburi) --> R$ 20,00

  • Diária no Camping Bromélias (Trindade) --> R$ 25,00

  • Ônibus: Trindade - Parati (municipal) --> R$ 5,00

  • Ônibus: Parati (Rio de janeiro) - São Paulo (Rodoviária do Tietê) --> R$ 60,00

    Gasto total aproximado --> R$ 150,00