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sábado, 19 de março de 2016

Travessia Camburi – Trindade SOLO RENATO DEZ/2015 - De Camburi das Pedras, Ubatuba – SP à Trindade, Paraty – RJ

Este é um relato de uma travessia relativamente rápida, feita de maneira solo por um dos membros de nossa equipe, o Renato Gamba Romano.

A ideia de fazer essa trilha surgiu de um relato publicado pelo montanhista Rafael Santiago sobre a travessia Camburi-trindade, um relato muito polêmico nos comentários pois algumas pessoas diziam ter se perdido na trilha, que ela era impossível de se completar e outras coisas, o que foi deixando ela cada vez mais interessante para se fazer.

Como a curiosidade matou o gato, não pudemos deixar de conferir. Segue o relato abaixo redigido com as próprias palavras do Renato:

Travessia Camburi – Trindade.
De Camburi das Pedras, Ubatuba – SP à Trindade, Paraty – RJ
27 de Dezembro de 2015

Dados da Trilha
Distância Percorrida: 7.6 Km
Duração: 5:47 Hrs
Altitude Min./Max. Atingida: 6m / 410m
Elevação (subida/descida): 523m / 523m
Dados sobre como chegar e custos no final do relato.

                         A trilha Camburi-Trindade sempre foi um desejo para mim. Desde meus 16 anos eu frequento essas praias da divisa dos estados (hoje tenho 23 anos) e o fato de ir por trilha de uma à outra sempre me atraiu. Passado a noite de natal e o almoço tão aguardado do dia seguinte, comprei minha passagem de ônibus pela empresa Reunidas Paulista com destino a Paraty-Rj e embarquei às 22:30 hrs do dia 25 de Dezembro de 2015. Chegar na praia de ônibus é fácil, basta pedir ao motorista para descer na vila de Camburi, no km 1 da Rodovia Rio-Santos antes da divisa, em frente a cachoeira da escada. Gostei do horário que eu viajei pois, para quem quer fazer a travessia no mesmo dia, chega-se as 4:00hrs na parada da rodovia e 40 minutos depois, descendo a estradinha para Camburi, se chega até a praia ou ao início da trilha.

Linda praia de Camburi das Pedras, um dia antes da travessia.

                         Decidi curtir um dia na praia, o que recomendo muito antes de fazer a trilha. Recomento reservar pelo menos 4 dias: 1 para conhecer Camburi, 1 para a Trilha, 1 para conhecer trindade e o último para o deslocamento de volta para casa. Em Camburi vale a pena conhecer a cachoeira dos 3 poços (é a cachoeira mais legal que eu já fui na minha vida, leve seu snorkel para mergulhar lá, é um universo a parte), o costão rochoso do lado esquerdo (quando você está na praia olhando para o mar) da praia e os campings lá são muito baratos, o que você não vai encontrar em Trindade. Em Trindade vale a pena ir à piscina natural do Cachadaço, as 7 cachoeiras e ao centro para quem gosta de agitação e baladas. Por fim, fiquei um dia curtindo Camburi, me alimentei bem durante a noite e no dia seguinte decidi partir rumo a Trindade.

Preparado para a trilha


                         Parti, saindo da praia, exatamente às 06:07 hrs, o clima estava bem quente, bebi bastante água e abasteci 1,5l de água no meu cantil. Subi a estrada de terra local  em direção a Rodovia Rio Santos até a Rua Vitória Filipa dos Santos, uma rua de solo bem acidentado que vai em direção ao morro a direita da estrada (Entrar na rua Vitória a direita – Ponto GPS). Uns 300 metros à frente cruzei o rio que, mais abaixo, dá origem a cachoeira dos 3 poços, cruzei e fui adiante. A rua começa a se estreitar muito e subir com uma alta declividade, quando a rua para de subir finalmente chega-se ao começo da trilha (Início da trilha – Ponto GPS).


Rua que leva ao íncio da trilha

Início da trilha

                         A trilha no começo estava bem demarcada e larga, ela já começa com uma subida considerável rumando em direção a Trindade. Trilha iniciada, 800 metros depois ela começou a ficar muito fechada, gastei muita energia e perdi muita água em forma de suor devido ao calor e ao esforço que estava fazendo devido as tentativas de abrir mata (isso realmente me cansou). A mata estava muito fechada, e para todo lado que eu olhava via uma possibilidade de trilha, os bambus não paravam de enroscar em mim e as vezes era até difícil cortá-los com o facão pois o espaço estava cada vez mais limitado, a alta declividade ali também contribuía para o esforço.  Depois de uns 20 minutos de esforço em vão, gravei um vídeo para relatar a situação e coloquei na minha recém iniciada carreira no montanhismo a minha primeira desistência. Quando estava retornando pelo caminho onde vim, de repente encontrei a trilha de novo! (Trilha de novo – GPS)  

Vídeo de quando me perdi:


Vídeo de quando encontrei novamente a trilha:



                         Lá estava ela, bem aberta e visível! Em algum momento eu havia me enganado e seguido um falso caminho (Me perdi – Ponto GPS) que me levou a beira da encosta, sendo que a trilha geralmente tende a seguir a crista dos morros. Cancelei a minha desistência e retornei à minha missão: completar a trilha a qualquer custo! A trilha segue bem aberta por 1.8 km até uma região bem lamosa onde encontra-se o primeiro sinal de água. Como eu havia perdido e consumido bastante água devido ao meu esforço desnecessário, reabasteci meu cantil nas poças (Água 1 – poça d’agua – Ponto GPS) de água que haviam por ali (que eram de água corrente que minava do chão) pois tinha receio de que os próximos pontos de água indicados pelo Rafael estivessem secos.


                         Menos de 100 metros à frente de onde coletei a água há um riacho com uma água bem melhor para se coletar (Água 2 – Riacho – Ponto GPS). A trilha fica bem confusa nesse lugar, e a partir daí, vários trechos com arvores caídas e crescimento “excessivo” de plantas dificulta muito a navegação. Havia uma cobra no riacho, não dei muita atenção para ela mas preferi pegar água mais para cima (a coitada estava muito assustada comigo e tentava correr loucamente pra longe de mim).


                         Aproximadamente 1.3 km separam o riacho do marco da divisa dos estados (Marco da divisa de estados – Ponto GPS). Este trecho estava muito coberto por mata e diversas vezes a trilha não está visível. Em um raio de aproximadamente uns 300 metros do marco da divisa não havia vestígios nenhum de trilha, nesse ponto a navegação foi totalmente por instrumentos. A visão do marco é uma coisa sensacional na trilha, eu estava andando emaranhado no mato quando de repente lá estava ele, um bloco de concreto de mais ou menos uns 60 centímetros encravado no meio da mata!

Marco da divisa de estados SP-RJ


                         Usando o GPS, consegui reencontrar a trilha em um vale a esquerda, mas logo cheguei no ponto em que o Rafael havia descrito um crescimento tão grande de samambaias que havia coberto toda a trilha, realmente estava lá (Samambaias / A trilha some – Ponto GPS). Um mar de samambaias intransponíveis, não dava nem para ver o solo, quanto mais a trilha. Tentei seguir o rumo do GPS abrindo mata com o meu facão, mas me vi cada vez mais emaranhado. Foram mais ou menos uns 25 minutos tentando abrir mata e eu não havia avançado nem 200 metros. Quando eu já estava ficando exausto, cai dentro do mar de samambaias, próximo as raízes das plantas, a massa de folhas sobre minha cabeça estava tão densa que estava até escuro ali. No fundo conseguia ouvir um barulho de riacho, então desisti de tentar seguir a trilha e rolei meu corpo ribanceira a baixo em direção ao som da água. (Recomendo neste trecho não tentar seguir a trilha do Rafael pois ali ela não existe mais). Depois de rolar um pouco cheguei em um barranco, desci e encontrei o riacho (Água 3 – Riacho (Seguir o curso) – Ponto GPS).


                         Depois de um descanso na beira do rio, observando as curvas de nível da carta topográfica do GPS (obtida pelo opensource) cheguei à conclusão de que aquele rio ia direto para a praia do Cachadaço. Comecei a descer ele e depois de 300 metros avistei canos de captação de água (Canos de captação de água – Ponto GPS). Segui os canos descendo o rio e, depois de uns 700 metros, cheguei na maravilhosa praia, bem na cara dos campings que eu queria ficar.



                         A trilha em si não é impossível como diziam, mas não é uma aventura recomendada para iniciantes. É preciso se preparar muito bem pois não há sinal de telefone nem rota de fuga durante pelo menos uns 90% da trilha. No sentido Camburi-Trindade à direita em uma média de 1km terá sempre costões rochosos inóspitos e o mar, e à esquerda uns 2 km subindo os morros tem a rodovia Rio Santos, e no trecho de 7 km de trilha não há nenhuma vila, estabelecimento ou construção que possa te ajudar ou abrigar. Se decidir faze-la, prepare-se para no mínimo um dia de comida e água caso tenha que se abrigar devido a alguma adversidade qualquer. 



Trajeto Percorrido




Dados Logísticos:


  • Ônibus: São Paulo (Rodoviária do Tietê) - Parati (Rio de Janeiro) --> R$ 60,00  
    •  - Pedir para descer no KM 1 da Rod. Rio-Santos, na Vila de Camburi das Pedras.
  • Diária no Camping Ypê (Camburi) --> R$ 20,00

  • Diária no Camping Bromélias (Trindade) --> R$ 25,00

  • Ônibus: Trindade - Parati (municipal) --> R$ 5,00

  • Ônibus: Parati (Rio de janeiro) - São Paulo (Rodoviária do Tietê) --> R$ 60,00

    Gasto total aproximado --> R$ 150,00







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